quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"O Haiti é aqui"


Você pode ter estranhado a frase do título. Mas em Murici a cena é essa mesmo: o Haiti está bem aqui. E parece que ninguém está vendo. Ou não quer ver.

No alto da cidade avistam-se as barracas. Parece um campo de refugiados. Ou melhor, um campo de isolados. Isolados da qualidade de vida, da saúde, da segurança, da educação, da dignidade de viver em uma casa habitável. As 500 barracas de lona impermeável cedidas pela defesa civil servem de “lar” para aproximadamente 4 mil pessoas, desde junho de 2010, quando dois dias de chuva foram suficientes para colocar abaixo tudo que estava nos leitos dos rios Mundaú e Paraíba, que banham 19 cidades alagoanas. Meses se passaram e as marcas deixadas pela fúria das enchentes ainda podem ser vistas e sentidas.

Na cidade de Murici, a 45 km de Maceió, as mudanças são visíveis. Poucas casas e lojas ainda existem nos arredores do rio Mundaú. A ponte que liga a cidade à área rural, quase não possuí para-peitos, que foram arrancados pelos escombros que vieram com a enxurrada. Um risco para os pedestres, que têm que dividir a rua com os carros.

A Força Nacional foi designada para garantir a segurança ostensiva da “cidade de lona”. O índice de crimes é de assustar. Assaltos, tráfico de drogas, estupros e ocorrências de violência contra a mulher, este último, em maior número. “Se a gente sair daqui, isso viraria um caos. O Haiti é aqui.” Palavras de soldados especialmente treinados para momentos de crise e que se surpreendem diariamente com a realidade. Segundo o capitão da guarnição, o trabalho tem que ser estendido para todo o município, uma vez que o policiamento na cidade é precário.

Na última terça-feira, 18, dia da minha visita à cidade, a Força Nacional, Ministério Público, Sociedade Civil e Prefeitura de Murici se reuniram para “definir competências” e tentar solucionar o caso. Espera-se uma grande ação para os próximos dias. Será que depois de sete meses, as autoridades e a população começaram a ver o que está diante dos olhos?

Nenhum comentário:

Postar um comentário